Mas, nem na várzea! Um manifesto contra o preconceito futebolístico

Mas, nem na várzea! Um manifesto contra o preconceito futebolístico

Por Estevão na Várzea

“Num fim de semana muito representativo para o futebol de várzea, com a estreia do Isso é Várzea na tela da Globo, é preciso jogar luz sobre algo que ainda persiste — nas resenhas de casa, no boteco, nas grandes mídias e nos canais de streaming:

O Preconceito Futebolístico

“Ah, esse aí nem na várzea joga…”
“Isso nem a várzea aceita mais…”
“Mas, nem na várzea!”

O futebol, por essência, é paixão. Representa o coletivo que permite a fluência das individualidades e também serve como espelho da nossa sociedade.

Infelizmente, ainda carrega palavras, expressões e vieses inconscientes que reforçam preconceitos antigos. Frases que não ajudam a desconstruir imagens enraizadas na alma de quem hoje “está por cima da carne seca”. Afinal, a várzea está em alta, mas…

Ainda falta. E muito.
Falta apoio. Visibilidade. Patrocínio. Alianças de longo prazo. Previsibilidade. E, principalmente, impacto social além das quatro linhas.

Como diria o historiador Luiz Antonio Simas, “a elite do futebol é um projeto de exclusão”. Um funil apertado pra chegar, arenas caras, sócio-torcedor distante, a pasteurização do esporte mais popular do país.

Nesse contexto, fica fácil — ou parece fácil — cair no erro de, ao comparar o futebol profissional com a várzea, imputar a ela a ideia de bagunça, de ausência de padrão, de falta de valor.

“Bom, é várzea, né?”

Pêêêêê. Errou. Chama o VAR.

Usar a várzea como sinônimo de desordem é virar as costas para a história de milhares.

Faz 10 meses que entrei nesse mundo, e minha vida mudou.

Cheguei a convite do Ron Borges para conhecer o Doroteia. Ali, fui imediatamente equipado para reportagem e uma nova fase começou — e espero que não tenha fim.

Não há nada, profissionalmente, que me faça mais realizado do que estar à beira dos campos de várzea, cobrindo desde a inauguração do CDC Areião num jogo de veteranos, até as finais da Super Copa Pioneer, Copa da Paz, Macaco Louco ou Martins Neto.

Viva a mídia varzeana. Vocês são a resistência.

E aos grandes conglomerados e grandes mídias que estão chegando: venham!
Mas venham em colaboração, gerando resultado e devolvendo à várzea o legado que ela já gerou — pois a continuidade é necessária. Sem essas alianças, vai demorar mais.

E quando vierem, que venham limpos do preconceito futebolístico que desvaloriza um produto que agora reconhecem como potência.

Se é pra comparar, que seja com justiça.

Como diria a norma culta da língua — muito aplicada pelo técnico Dorival Júnior — que não aceitemos mais piada disfarçada de crítica. Que nenhuma expressão carregada de preconceito seja normalizada quando o assunto for futebol varzeano.


Estevão na Várzea

Colunista Esportivo – Especial Onipress

Guilherme Estevão – Instagram

Redação

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